quarta-feira, 15 de junho de 2011

Infância perdida.

    Eu tinha apenas 12 anos, minha vida era miserável, morava com meus pais , que além de mim tinham mais 7 filhos. Meu pai era ajudante de pedreiro e minha mãe empregada doméstica. Nossa casa era sem reboco na periferia de São Paulo, lá no frio era um inferno, eram apenas 3 cômodos pequenos, e apertados com uma cama de casal, e um pedaço de papelão no chão para os demais.
     Nossa família passava necessidade, e as vezes só sobrava um pão para dividir entre os 10... e minha mãe, aquela mulher era minha fonte de inspiração, apesar da pobreza ela nunca deixava transparecer o aperto do dia-a-dia. Com seu sorriso amarelo, tinha a capacidade de esconder qualquer dificuldade, sempre para que não precisássemos nos preocupar com nada.
    Maria Luz, esse era o nome dela, sempre me lembro de sua face triste e cansada, mesmo com a vida nos dizendo ''não'',  ela fazia questão que estudássemos, e tivéssemos a melhor educação possível.As vezes era 4:40 da manhã e já estávamos em pé, para irmos a escola mais próxima apé,eram aproximadamente 3km, pois o dinheiro era pouco, e não dava pro passe. Eu era a primeira da classe, sempre dedicada e estudiosa, os olhos da professora brilhavam quando eu adentrava e sala de aula, pois ela sabia da minha história, e admirava minha perseverança.
    Meu maior sonho, era ser médica, cuidar de pessoas que precisavam de minha ajuda,mas as vezes a realidade matava esse desejo. Me lembro que uma noite fria, e escura eu voltava da casa de uma amiga, depois de fazer um trabalho de escola, eu vi algumas mulheres, semi-nuas , andando na rua com grandes saltos em seus pés, e com um rebolado sinuoso. Minha ingenuidade não me permitia  identificar o que elas faziam ali.Parei pra observar , tomando cuidado para que elas não me vissem, algumas entravam em carros, outras recebiam dinheiro de homens que passavam e logicamente, ia com eles, tinha uma que estava vindo em minha direção, e eu pela curiosidade perguntei:
   -O que fazem vocês , sozinhas a essa hora da noite? E ela me respondeu com desdenho,
   - Ganhando dinheiro,garota!Mais e você?? Não devia ir para casa??
     Me virei e sai correndo, minha mãe estava em pânico com a minha demora,ela me abraçou forte e mandou que eu fosse dormir. Naquela noite não consegui pregar o olho pensando naquelas moças, ''ganhando dinheiro'' , minha família ali, precisando tanto, será que essa era uma forma de ajuda-los? E o que elas faziam?? Pra onde iam?? Porque entravam em carros, sempre com homens no volante?? 
     Eu sinceramente não sabia o que fazer, e se eu perguntasse para minha mãe, certamente ela ignoraria o problema, pois seu orgulho não permitia que eu a ajudasse. Na manhã seguinte, pensei em perguntar para minha professora, porém tive um pouco de receio; naquela tarde voltei pra casa, e encontrei D.Maria , aos prantos sentada na cama,nos braços de meu pai, eu via aquela cena e isso me deixava agoniada, decidi falar com eles: 
      - O que houve mãe??Perguntei com olhar de desespero, 
      - Seu pai, filha..perdeu o emprego. E agora o que vamos fazer, já não ganhávamos muito dinheiro.. e agora menos ainda.
        Aquela foi a gota d'água precisava ajudar eles, justo meu pai, que já fez tanto por mim, eu ia atras daquelas mulheres, e ia ser como elas, no outro dia, andei até um brechó perto de casa, e roubei um sapato de lá. Inventei uma desculpa para minha mãe, e ela deixou eu ir dormir na casa de uma amiga, na esperança de que eu ficasse melhor do que a onde eu estava.
      Me vesti e fui atras das moças, eu ainda meio envergonhada, me escondia na sombra de uma mulher alta, com um colo bem avantajado. Ela percebeu a minha presença e disse: 
       -Aqui não é creche pirralha, vaza daqui garota.
       Eu fazia pose e respondia de mal jeito: 
       -Vim aqui para ajudar minha família e ser como vocês.
        Elas riram desesperadamente , com um tom de chacota no fundo de casa riso. 
        -Já que você quer tanto ajudar a sua família, então nós vamos te ''batizar...''
        Rapidamente pegaram o meu braço, e me levaram para a calçada, a onde todos podiam me ver, e ficamos ali paradas durante uns 2 minutos, quando um carro parou, e abaixou o vidro.O homem tinha pinta de rico,bem vestido,o carro era lançamento, tinha cara de novo, notei que  havia um relógio de ouro em seu pulso,ele perguntou: 
      - Quanto  as moças cobram?? 
      - Depende moço,hoje a gente tem material novo, pra você dar uma olhada.Disse a mulher mais vulgar de estava no bando.
        - Quem?? Ela??Perguntou o cara com ar de desconfiança
       Na hora elas  tentaram negociar, não consegui escutar a conversa,só queria fugir dali,mais já era tarde demais pra voltar atras.Logo entrei no carro; o silêncio mortal definhava-se naquele ambiente, mais ele logo quis papo...
        -Quantos anos você tem mocinha?? 
        -12 ,senhor.Respondi olhando pro chão
        -Esqueça o senhor, me chame de ''você'' 
        Eu me calei.
     Chegamos a um lugar que se não me falha a memória era um apart-hotel, ele abriu a porta do carro e eu desci, naquele momento notei que o que aquelas mulheres faziam, era bem pior do que eu pensava.Entramos no quarto e ele apressado, pediu que eu deitasse na cama, entrei em pânico,nunca tinha feito sexo por dinheiro, minhas pernas estremeceram,meu coração gelou.Eu tentei sair correndo,mais a porta estava trancada, foi quando de longe eu escutei uma voz:
     - Se você se comportar, logo isso acaba e ai eu te libero; com um bom dinheiro no bolso.Ele sorriu
     Eu voltei,caminhei devagar e deitei.Senti a pior dor da minha vida,até chorei , sem que ele percebesse, queria que tudo aquilo passasse depressa, meus olhos lacrimejavam, mais eu fui forte.Até o fim....
    Voltei para o ponto,da onde tinha partido, as meninas ainda estavam lá, elas me olharam e uma disse: 
      -Aprendeu garotinha?Isso é prostituição. 




                 Autora: Larissa Amanda V. Francellino            9° ano A.

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